Hora de Levantar do Comodismo e da Mornidão Espiritual
“Por que isto dizes, Jacó, Israel, por que reclamas: ‘O Senhor ignora meu destino, Deus não vê o meu direito!’? Acaso não sabes? Ainda não ouviste falar? O Senhor é o Deus eterno! Foi ele quem criou toda a extensão do mundo. Ele não corre nem se cansa, nem é possível pesquisar sua inteligência. É ele que dá ânimo ao cansado, recupera as forças do enfraquecido. Até os jovens se afadigam e cansam e mesmo os guerreiros às vezes tropeçam! Mas os que esperam no Senhor, renovam suas forças, criam asas como águia, correm e não se afadigam, andam, andam e nunca se cansam.” (Isaías 40,27-31)
Eiii, que bom que você chegou pra ler esse texto! Achei que você seria um “carismático de meia tigela” que ao ver o título iria desistir de entrar no mar e caminhar sobre as ondas do Amor de Deus na Aventura da nossa purificação, da nossa transformação e aprimoramento da vontade de Deus expressa na nossa fidelidade à Verdade e desapego de nossas mesmices. Mas já que você está aqui, quero começar lhe exortando, a fim de que “não paremos na falta de esperança e fé”. Um dia Deus nos retirou sabe lá de onde, talvez da tampa ou do fundo do poço, e neste tempo de desafios, em que a nossa fé mais do que nunca vem sendo provada, como autênticos carismáticos nós temos de ir além e, se for preciso, recomeçar. Uma vez que fizemos a experiência do Deus que nos sustenta, é possível que recuperemos nossas forças e continuarmos a caminhar.
Somos filhos de Deus, Seu povo amado e eleito. Pode ser que nos sintamos desanimados, enfraquecidos e sem forças devido a tantas coisas (distanciamento social, saudade da Santa Missa e dos nossos encontros de Grupo de Oração), mas somos convidados a um novo tempo. Vivemos nosso exílio nesta terra, pois estamos aqui de passagem, nossa morada definitiva é o céu, sejamos violentos contra o pecado, contra o mundo e principalmente…contra nós mesmos e nosso “infantilismo espiritual” que nos prende à mornidão e tende a nossa frieza espiritual. Talvez digamos para nós mesmos: “Estou sem ânimo! Estou cansado!”. Peçamos ao Senhor que revigore nossas forças. Somos Renovação, e nosso nome já diz tudo: “Não somos, absolutamente, de perder o ânimo para nossa ruína; somos de manter a fé, para nossa salvação!” (Hb 10, 39), Renovação é transformação. Já há a algum tempo o Senhor tem martelado no meu coração e no de vários líderes da RCC Brasil afora o despertar: “Renova-te RCC”. Chegou o momento para que saiamos do comodismo e da mornidão espiritual. Retomemos nossa vida em Deus, essa pandemia do Covid-19 tem nos proporcionado um tempo de repensar toda nossa vida e nossa história e isso perpassa também pela nossa caminhada carismática!
Fato é que, quando começamos a ter uma vida de oração, é muito comum que, como principiantes, tenhamos uma série de consolações. Aos poucos, vamos descobrindo que Deus é um Deus vivo e que, realmente neste trato de amizade que é a oração, encontramos um amigo que alimenta e consola o nosso coração. Porém, acontece que, com o tempo, esta parte de consolação espiritual tende a acabar e segue-se um período de aridez. Nisso, revela-se que o homem velho só estava dormindo, mas ele agora está acordado, vivo e sadio. Quando vemos que o homem velho mostra novamente o seu rosto, entramos num período de secura e de aridez, de dispersão. Não conseguimos mais nos concentrar na oração; ficamos distraídos. A oração torna-se uma tortura porque, na verdade, o nosso coração é um campo de batalhas. Queremos ser de Deus, mas não queremos pagar o preço de ser de Deus. Começamos a fazer a oração inicialmente com muita imperfeição e preguiça. Com o tempo, quem sabe começamos a cometer pecados veniais deliberados e, de pecado venial em pecado venial, entramos numa realidade chamada tibieza.
Nós, que tínhamos o braseiro ardente do amor de Deus, por causa das imperfeições e dos pecados veniais, da mentalidade mundana, arrefecemos, esfriamos o nosso coração. Aos poucos, ficamos cada vez mais voltados para nós mesmos, cada vez mais egoístas. Isso é aquilo que Santa Teresa Dávila diz quando somos ainda muito concentrados em nós mesmos. E tomados dessa mornidão que se transforma em tibieza corremos o risco de nos perder e sair dos trilhos que nos prendem ao Senhor e a caminhada dentro da RCC. Assim, se estamos experimentando uma aridez espiritual, nosso primeiro dever é fazer um exame de consciência. Vejamos se, na verdade, em vez de aridez, o que estamos vivendo mesmo não é a tibieza, se não nos tornamos pessoas mornas demais, um “carismático mais ou menos”. Vejamos se aquela pessoa que se decidiu pelo caminho de Deus já não está mais aí, e se não começou a negociar com o mundo. “Ao anjo da igreja de Laodiceia, escreve: Eis o que diz o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus. Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te.” (Ap 3, 14-16)
E falando nisso, no dia 26 de setembro de 2019, nosso querido Papa Francisco durante a homilia na Casa de Santa Marta, trazia à tona uma poderosa reflexão que quero retomar alguns pontos que nos ajudam a “levantar”. Donde pessoas eram tomadas por um espírito de tepidez e de mornidão. De acordo com Francisco, essas pessoas diziam: “Sim, sim, Senhor, tudo bem… mas com calma, calma, Senhor, vamos deixar assim … Amanhã eu faço!”. Esta prática é caracterizada pela repetição do mesmo amanhã, pelo adiamento da mudança, das decisões de conversão do coração, de mudança de vida, explicou o Papa. É uma tepidez, afirmou o Santo Padre, que muitas vezes se esconde atrás de incertezas e, enquanto isso, é adiada. E assim muitas pessoas desperdiçam a vida e acabam “como um farrapo porque não fizeram nada, só mantiveram a paz e a calma dentro de si”. Mas esta é “a paz dos cemitérios”, alertou. Quando homens e mulheres entram nesta tepidez, nesta atitude de mornidão espiritual, transformam a suas vidas em um cemitério: não há vida, explicou Francisco. De acordo com o Papa, a escolha de viver desta forma leva as pessoas a um fechamento para evitar problemas, reafirmando para si: “Sim, sim, estamos nas ruínas, mas não arriscamos: melhor assim. Já estamos acostumados a viver assim”.
“Não vos conformeis com este mundo…” (Rm 12, 2)
Com o Papa Francisco, rezemos: “Peçamos ao Senhor a graça de não cair neste espírito de ‘cristãos pela metade’ ou, como dizem as velhinhas, ‘cristãos de água de rosas’, assim, sem substância. Cristãos bons, mas que trabalham tanto – semearam muito, mas colheram pouco. Vidas que prometiam muito e, no final, não fizeram nada. Que o Senhor nos ajude a nos despertar do espírito de tepidez, de mornidão e a lutar contra esta anestesia suave da vida espiritual.
Autor: Bruno Pio
Coordenador Arquidiocesano
Coordenador Arquidiocesano de Mariana
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