Por que os jovens abandonam a Igreja ?

Por que os jovens abandonam a Igreja ?

Por que os jovens abandonam a Igreja? Uma longa e minuciosa pesquisa feita nos Estados Unidos tenta responder essa questão1. Conhecer suas descobertas nos ajuda a compreender a nossa própria realidade. Esse estudo foi realizado pela Universidade de Georgetown e analisou as dinâmicas de desfiliação entre os jovens católicos.

Dados interessantes: 74% dos 214 ex-católicos entrevistados revelaram que o abandono da Igreja se deu entre os 10 e 20 anos de idade. Vários deles começaram a ter dúvidas e perguntas sérias sobre a fé por volta dos 10 ou 11 anos de idade. Nas estatísticas obtidas o auge das dúvidas religiosas ocorre aos 13 anos. A maioria jamais se sentiu à vontade para levar esses questionamentos aos seus pais, catequistas ou sacerdotes. 35% deles se declaram sem nenhuma afiliação religiosa. 14% se intitulam ateus ou agnósticos. Nos EUA esses jovens sem religião são chamados de “nones” e são cada vez mais numerosos. Todavia, uma parte considerável dos sem-religião continua acreditando em Deus e buscando algum credo para aderir.

Os pesquisadores identificaram certos padrões de comportamento diante da religião e, a partir das respostas obtidas, e erigiram três arquétipos entre os jovens: os “feridos”, os “deslocados”, os “dissidentes”.

Os “feridos” são aqueles jovens que passaram por alguma tragédia ou sentiram que, em determinado momento de suas vidas, Deus ficou ausente. Por exemplo, apesar de suas orações um familiar morreu ou seus pais se separaram. Um dos entrevistados, que perdeu o avô por causa de um câncer, disse: “todo mundo estava rezando por ele. Eram quase 150 pessoas! Quando vi que isso não serviu para nada, comecei a me tornar cético”.

Os “deslocados” são aqueles que tiveram sérios problemas para harmonizar sua crença com as suas experiências de vida. Por isso, começaram a se sentir estranhos dentro da Igreja e terminaram se perguntando se ainda fazia sentido ser católico ou não. Gradualmente abandonaram suas práticas religiosas e se tornaram indiferentes à religião.

Por fim, nos “dissidentes” os pesquisadores encontraram a rejeição mais forte em relação à Igreja. Estes jovens explicaram que o seu desacordo com os ensinamentos da Igreja, sobretudo nos temas morais polêmicos (aborto, contracepção, homo afetividade, etc.), precipitou o seu abandono da Igreja. E os escândalos sexuais ou abusos cometidos por membros do clero? Que influência tiveram? É impressionante constatar que apenas 2% daqueles jovens estadunidenses disseram ter abandonado a Igreja por causa de tais escândalos.

John Vitek, um dos principais autores dessa pesquisa, conclui que é importante animar jovens e crianças a fazer suas perguntas com toda liberdade. Aos adultos cabe ter maturidade e serenidade para acolher os questionamentos. Devem capacitar-se para respondê-los de forma clara e honesta ou, ao menos, buscar ajuda de pessoas capacitadas quando necessário. Família, catequese, comunidade paroquial precisam se converter em espaços abertos diante desses inevitáveis questionamentos existenciais. Um jovem que tem as suas dúvidas e perguntas subestimadas ou desprezadas torna-se alguém facilmente exposto à incredulidade. Vitek adverte que “estudos demonstram que aqueles que deixam a Igreja, o fazem para sempre”. Sobre o que pode fazer a Igreja Católica para evitar o abandono massivo dos jovens, Vitek recomenda: “necessitamos criar um ambiente onde os jovens possam expressar suas dúvidas e perguntas sobre a fé sem medo de serem julgados”.

http://1 https://www.lasallian.info/2018/01/going-going-gone-saint-marys-press-releases-study-on-disaffiliation

Para refletir:

1- Estamos realmente atentos às perguntas e dúvidas de fé que nossos jovens apresentam? Como reagimos?

2- Esse fenômeno do abandono da Igreja por parte dos jovens também acontece em nosso meio? A “crise dos 13 anos” também é uma realidade nossa?

3- Como capacitar as famílias e a catequese diante do desafio apresentado por essa pesquisa?

 

Pe. Luiz Antônio Reis Costa – Assessor eclesiástico da RCC – Arquidiocese de Mariana

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