Desde o pontificado de Nicolau I (858-867) o Advento se organiza como um período de quatro semanas principiadas por um “domingo estacional” com textos litúrgicos específicos para a Missa e o Ofício Divino. São textos de grande beleza e profundidade através dos quais somos conduzidos a esperar a vinda gloriosa de Cristo e contemplar o mistério da encarnação do Verbo. A cada semana do Advento a figura do Cristo que vem ao nosso encontro ganha novos matizes e desvela o mistério de amor do Deus que se tornou humano para a nossa salvação. Paralelamente proclama-se, cada vez mais intensamente, a maternidade virginal de Maria como sinal inequívoco de que o filho gerado no seu ventre é verdadeiramente o “Deus conosco”. Em suma: a primeira parte do Advento (até o dia 16 de dezembro) tem um evidente caráter escatológico e considera-se o Cristo que voltará no fim dos tempos. Na segunda parte do Advento (de 17 a 24 de dezembro) contempla-se o mistério do Verbo que se fez carne e nasceu em Belém, realizando assim uma preparação imediata para a grande solenidade do Natal
O mais célebre dos domingos do Advento é o terceiro, tradicionalmente chamado de “Gaudete” (Alegra-te) por causa da primeira palavra da antífona de entrada da sua Missa: “Gaudete in Domino semper”: “Alegrai-vos sempre no Senhor” (Fl 4,4). O uso da cor rósea e das expressões de júbilo espiritual já indicam a proximidade do Natal. Dessas etapas do Advento, a mais tocante é aquela situada entre os dias 17 e 24 de dezembro. Com o seu conjunto de antífonas próprias para cada dia, essa semana possui aquele tom vibrante causado pela proximidade com o santo dia do Natal. São estas antífonas conhecidas como as “Antífonas do Ó” pelo fato de todas começarem com um vocativo dirigido ao Cristo que vem, nomeado em seguida como Sabedoria, Adonai, Raiz de Jessé, Chave e Cetro de Israel, Oriente, Rei e Emanuel. Títulos bíblicos que apresentam a missão de Cristo a partir do seu enraizamento na história do povo de Israel. O Santo Cardeal Newman (1891-1890), mesmo fora do tempo do Advento, gostava de rezar essas antífonas em suas visitas ao Santíssimo Sacramento. Elas revelam a presença e a ação de Cristo acontecendo em nossa história sob as mais diversas formas.
Os textos bíblicos das Missas do Advento são outra riqueza espiritual dessa época, autêntico fruto da reforma litúrgica promovida pelo Concílio Vaticano II (1962-1965) que ampliou e enriqueceu o lecionário. Os dois primeiros domingos do Advento desvelam a chegada do Cristo, juiz justo e misericordioso, diante da história de cada pessoa e da humanidade inteira. O terceiro domingo volta-se para a figura de João Batista e o anúncio da chegada iminente do Messias, instando a uma corajosa revisão de vida e a necessária conversão a fim de estarmos prontos para receber o Senhor que vem. O quarto domingo do Advento é essencialmente mariano e nos apresenta a Virgem Maria como aquela que acolhe o projeto de Deus e gera o Cristo. Maria é o modelo da disponibilidade completa que devemos cultivar diante do chamado de Deus. Esse aspecto é evidenciado na grande solenidade mariana da Imaculada Conceição (8 de dezembro). Também os textos das missas feriais (os “dias de semana”) foram cuidadosamente escolhidos e revelam a expectativa de Israel pela vinda do Messias, o cumprimento da promessa divina com o nascimento de Jesus Cristo e a esperança que a Igreja cultiva ao longo dos séculos enquanto peregrina para o Reino definitivo. Tudo isso nos convida a experimentar a liturgia do Advento de forma ainda mais profunda. A participação ativa e frutuosa na liturgia nos mergulha no mistério celebrado, revigora a nossa fé e molda positivamente a nossa forma de viver. Revela a proximidade amorosa de Deus não só como fonte de alegria espiritual, mas como o verdadeiro fundamento da nossa existência.
FONTE:
ARTIGO DE
MONS. LUIZ ANTÔNIO REIS COSTA
Link: https://arqmariana.com.br/artigo/as-etapas-do-advento/
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