A vontade do homem ou a vontade de Deus?

 

Nosso Senhor Jesus Cristo quando ensinou os discípulos a rezarem disse: “Pai… seja feita a vossa vontade…” (trecho extraído do texto de Mateus 6,9-13)

Quantas vezes repetimos esta oração (em modo “piloto automático” em muitas delas), mas não nos damos conta de que nem sempre será fácil deixar que “seja feita a vossa vontade (vontade Divina) assim na terra (na nossa vida) como no céu…”

A religião católica não é antropocêntrica (tudo o que gira em torno do homem e suas vontades), mas é Teocêntrica (gira em torno de Deus e sua Santa vontade). Ou seja, não é Deus ou a Igreja Católica que se conformam ao homem, mas é o homem católico que procura agir em tudo conforme a vontade de Deus e orientado pela Igreja.

Diriam alguns: mas essa ideia de centralidade em Deus foi derrubada na idade média e sabemos que houve um avanço na sociedade desde quando houve distinção disso. Sem delongas, respondo com a historicidade das coisas e com contra perguntas que trazem à luz verdades intrínsecas às referidas perguntas: quantas guerras mundiais houveram antes e depois do rompimento do pensamento Teocêntrico? Quantas atrocidades já não experimentaram os homens desde que Deus foi deixado de lado? E quão desumana se tornou a sociedade desde que rompeu suas relações com Deus, desde que o homem se tornou o centro? Qual lugar ocupa hoje a família, os filhos, os valores e virtudes? Onde estão os valores e as virtudes?
Qual o valor da vida humana?
Quando o homem não escolhe por Deus, automaticamente ele se torna refém das suas próprias fraquezas e más inclinações; e uma vez conduzido pelas más inclinações, o fruto de suas ações passa a ser tudo aquilo que se opõe à Vida (Jesus), o salário ou, a recompensa das ações humanas em decorrencia do pecado, é a morte” (Romanos 6,23).

Há nos tempos de hoje uma ideia de que a felicidade por exemplo pode ser conquistada a todo custo, que o importante “é ser feliz”, mesmo que isso te leve a se afastar da vontade de Deus, fazendo a própria vontade. E vão além! Muitos hoje querem brigar com a Igreja somente para satisfazer as próprias vontades, os próprios desejos de felicidade, mesmo desordenados, e dizem que é a Igreja Católica que precisa se adequar aos “novos tempos”, em vez do fiel procurar a cada dia a conformidade com a Santa Mãe Igreja. Querem mesmo uma “igreja” a seu modo e infelizmente para alguns, quando a Igreja não os atende em suas vontades, procuram outras opções de religião que os atenda.
Esse comportamento é histórico, herança do pecado da origem (Soberba) quando o anjo mais lindo e possuidor de toda a ciência divina (Lúcifer – anjo luz) quis ser mais do que Deus: perdeu o paraíso porque preferiu a si mesmo, preferiu a própria vontade em oposição à vontade de Deus.
Contudo, ainda não satisfeito, tentou Eva para que ela cedesse ao mesmo pecado e também quisesse ser como “deus” (Gênesis 3,5), sem Deus.

Outros desdobramentos desse pecado da origem e da continuidade da tentação da soberba, se deram na história da humanidade, sobretudo na igreja, onde muitos não quiseram mais se submeter à vontade do Pai através das orientações da Madre Igreja e saíram desta para criar suas próprias leis, sua própria “igreja” e nos tempos atuais, um novo “evangelho” ou euvangelho, se me permitem a adaptação.
De fato, quando Deus deixa de ser o centro e a referência na vida do homem e este ocupa o lugar de Deus, a desordem se instala e o homem vive girando em torno de si mesmo, perdido.

Sodoma e Gomorra (livro do Gênesis) sucumbiram por causa disso, literalmente se afundaram em toda sorte de pecados em busca da própria vontade, dos próprios desejos desordenados, em oposição à vontade de Deus.

Urge seguir as orientações de São Paulo aos Gálatas: “… conduzi-vos pelo Espírito e não satisfareis os desejos da carne. Pois a carne tem aspiracoes contrárias ao Espírito e o Espírito contrárias à carne.” (Gálatas 5,16)

O catecismo da Igreja Católica nos ensina: “somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar…” (CIC parágrafo n.27)

Certa vez num programa de TV durante uma entrevista, vi um teólogo dizendo sobre um consenso geral dos teólogos sobre o livro de Jó: o personagem principal deste livro se achava “bom”, mas ao perder tudo reconheceu que “só Deus é bom” e que o homem é fraco e limitado (reconhecer a própria fraqueza é princípio de sabedoria).

Portanto, ao recitar a oração do Pai nosso, tenhamos em mente e coração que um dos sete pedidos que fazemos nesta oração que Nosso Senhor nos ensinou é para que seja feita a vontade de Deus em nossas vidas, decisões, caminhos, somente em Deus está a felicidade que tanto procuramos e que para seguirmos em direção à vontade divina é necessário cada vez mais nos deixarmos guiar pelo Espírito Santo de Deus.

“Pai nosso que estais no céu… seja feita a vossa vontade assim na terra (na minha vida) como no céu…”

Amém (Assim seja)

Jailson Augusto da Fonseca

– Coordenador Arquidiocesano do Ministério de Formação

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