A “Embriaguez espiritual”, Frei Raniero Cantalamessa
No livro “A poderosa Unção do Espírito Santo” [1], Frei Raniero Cantalamessa apresenta algumas reflexões sobre o Batismo no Espírito Santo.
Em 1975, segundo o citado livro, o Papa Paulo VI dirigiu as seguintes palavras por ocasião do encerramento do Congresso Mundial da Renovação Carismática na Igreja Católica:
“No hino que lemos esta manhã no breviário e que remonta a Santo Ambrósio, século IV, aparece esta frase de difícil tradução, embora muito simples: Laeti , que significa “com alegria”; bibamus , que significa “bebamos”; sobriam , que significa “sóbria e moderada”; profusionem Spiritus , isto é, “proefusão do Espírito”. Laeti bibamus sobriam profusionem Spiritus . Poderia ser o lema impresso no vosso movimento: um programa e um identificador do próprio movimento.”
De acordo com o frei, através do seu Pastor supremo nas palavras acima, a Igreja traçou um programa para a Rcc e este programa não pode ser perdido de vista, mas devemos portanto descobrir todo o conteúdo da palavra latina que fala de uma sóbria profusão do Espírito Santo.
Para mergulhar no sentido das palavras do então Papa Paulo VI a respeito da “sóbria embriaguez”, Frei Raniero apresenta através da Patristica a fundamentação e os efeitos do Batismo no Espírito Santo já nos primórdios do cristianismo, conforme a seguir.
“Jerusalém, ano 348: o bispo do lugar, Cirilo, comentando aos catecumenos a descrição de Pentecostes, chegando às palavras de Pedro: “Estes homens não estão embriagados, como vós pensais” (Atos 2,15 a), diz:
Não estão embriagados da forma que vós imaginais. Estão ébrios, sim, mas daquela sóbria embriaguez [ nefálios méthe ]que faz morrer os pecados e vivifica o coração e é o oposto da embriaguez material. Esta (a embriaguez material) faz esquecer aquilo que alguém sabe; aquela (embriaguez espiritual), ao invés, traz o conhecimento do que antes era desconhecido . Estão ébrios porquanto bebem o vinho daquela videira espiritual que afirma: “Eu sou a videira, vós os ramos” ( Jo 15,5 a).”
É uma embriaguez provocada pelo Espírito Santo num estado no qual o homem é purificado dos pecados, inflama seu coração de fervor e eleva sua mente a um conhecimento especial de Deus: conhecimento não loquaz, mas intuitivo, quase experimental, acompanhado de certa doçura interior.
Santo Ambrósio pregando aos neófitos, diz:
Todas as vezes que tu bebes, recebes a remissão dos pecados e te inebrias de Espírito. Nesse sentido, o Apóstolo diz: “Não vos embriagueis com vinho, que é uma fonte de devassidão, mas enchei-vos do Espírito (Ef 5,18). Aquele que se embriaga de vinho cambaleia, aquele, ao invés, que se inebria do Espírito Santo está arraigado em Cristo. Verdadeiramente excelente essa embriaguez que produz a sobriedade da alma!” [2]
O convite para a Renovação Carismática Católica é (re)descobrir nesta “sóbria embriaguez” uma experiência autêntica com o Espírito Santo. Experiência esta, que não nos leva ao afastamento ou alienação sobre a realidade, mas nos leva a buscar mais a presença de Deus em nossas vidas, independentemente da realidade em que nos encontramos, estar em contínuo caminho de conversão.
Que Nossa Senhora da Assunção nos ensine a ser dóceis a ação do Espírito, para que Ele cada vez mais nos inebrie com o gosto pelas “coisas do alto” (Col 3,1) e a sermos sóbrios durante nossa vida terrena.
Jailson Augusto da Fonseca
– Coordenador Arquidiocesano do Ministério de Formação
Fontes: [1] A poderosa unção do Espírito Santo, Raboni Editora Ltd a., 1996, Raniero Cantalamessa
[2] Ibidem anterior, página 11.
Nota: Frei Raniero Cantalamessa é Pregador da Casa Pontifícia desde João Paulo II até o Papa Francisco
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